sexta-feira, 27 de maio de 2011

Sempre só

Texto de Ana Nogueira

As paredes obsoletas, os candeeiros semi-cerrados, a modéstia da mentira, o oculto da imaginação, a sensibilidade do homem vulgar, a chamada para o infinito, a devastação pessoal, o medo da solidão, o tacto quando deixa se ser tacto… Uma sala sublime com candelabros de cristal, o chão feito de vidro, as damas com os seus sapatos mortíferos para este chão, os cavalheiros com suas bengalas emproadas, fazendo piadas vulgares e as meninas com seus corpetes apertados prestes a sufocar, riem… assim foi o caminho de quem nos antecedeu, o nosso é similar. A sala moderna, os candeeiros de um novo decorador de interiores que se casou com uma menina cujo pai é partidário, decide dar-lhe fama, para o elitismo não morrer… o chão continua sensível, pois os sapatos tornaram-se perfuradoras que ao invés de encontrarem petróleo, encontram varizes nas belas pernas refeitas por um cirurgião cujo nome é a sua porta de segurança! As meninas cheiram o numerário, para em suas camas feitas de cerejeira, sonharem com armas mais caras e que exponham ainda mais o seu porte, comportam-se como objectos, como se simplesmente se tivessem deixado influenciar por estes… rodam sobre seus leitos pensando que os encontros no casino lhes vão trazer mais ornamentos para seus belos e esguios pescoços, que assim o são, pois os locais mais repugnantes, são os que escolhem para largar toda a gula que se torna desta forma em avareza! Riem de piadas ordinárias com seus peitos a brotarem pela blusa de seda que em suas mentes rogam para um botão se abrir, ou talvez dois, depois fingem constrangimento, satisfeitas com os olhares sujos que lhes são atribuídos!
         Quem é esta gente?
         Porquê merecem eles respirar o ar que eu respiro?
         Seria eu mais feliz se fosse desta forma? Talvez… mas, então, quem escreveria para vós?
         O sucesso inesperado apraz a sensibilidade alheia que é fraca com o poder da imagem que hoje ilumina os nossos dias com mentiras aprazíveis! Mintam, enganem-se, assim a vida é mais fácil, apesar de dessa forma eu não a intitular como sendo vida! Mais um cigarro termina, mais uma doença emerge.
         Fiquem doentes com a vossa ambição desmedida, com vossas futilidades, eu prefiro morrer aqui, num canto pelo qual ninguém consegue trespassar! Vós sois mais espertos, não sofreis porque não vedes o que eu nunca conseguirei ocultar! “Amanhã é um novo dia”… para mim é só mais uma data.
         Espero que a esperança me entre pela janela, que me leve para além da atmosfera, para aquele lugar recôndito, onde se esconde a essência do ser!
         Não tarda todos somos comida para vermes, mas mesmo sabendo da única certeza universal, prefereis viver vossos jogos. Eu, terei que fazer o mesmo, porque até o meu amor por vós já foi corrompido! Maldita lógica humana! Deixo-vos a minha praga! Espero que todos amem alguém que não os ama, que os sonhos sejam cada vez mais constantes, e que ninguém passe incólume à tristeza universal, pois todos sereis punidos pela vossa douta ignorância! Sois desprezíveis! Odeio a vossa serenidade perante a mortificação social! Aliás, usais este termo para vos desculpares, sóis asquerosos! Porque não admitíeis o amor? Porque viveis na incerteza e na destreza humana? Mas, não serei eu a julgar-vos, vós acabareis por fazê-lo, quando em vossas paredes só conseguires ver escrito: sempre só!

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