terça-feira, 3 de abril de 2012

A culpa é do Sócrates!?


Os portugueses, a braços com os grandes problemas do seu presente, assistem agora a uma avalanche de acusações, inquéritos e investigações sobre o passado recente dos seus poderes públicos.
Ele é o «Face Oculta», o «Freeport», o BPN, o «abate dos sobreiros», as «PPPs» (Parcerias Público-Privadas), os contratos do «Parque Escolar», os gastos privados dos ministros do anterior Governo, dos hospitais, das Estradas de Portugal, dos motoristas dos governantes, dos «desvios» profissionais das «secretas», dos dinheiros que alguns gastam, sem se saber como o ganharam e dos dinheiros que alguns ganharam e não declararam.
É uma chuva de acusações, semelhante àquela cena do ilusionista que tira lenços do chapéu. Quando pensamos que já não há mais nenhum, sai outro!
Os jornais e as televisões estão cheios de «denúncias», com conteúdos suficientes para «julgamentos prévios» e a Internet debita insinuações, que vão desde os antigos negócios do Presidente da República, ao antigo presidente de um conhecido clube de futebol.
Se não soubéssemos em que País vivemos, até poderíamos supor que, finalmente, estamos a caminho da moralização da nossa ancestral sociedade, começando pelos seus dirigentes.
Mas, com base nas experiências do nosso passado democrático, nas intermináveis «fugas» do nosso sistema jurídico, nas «NPPs» (Negociatas Público-Privadas), nas «IPPs» (Influências Político-Partidárias), nas «PPMs» (Pressões Político-Maçónicas) e com a impunidade judicial, de que gozam os nossos «PMs» (Políticos-Menores), poucos acreditam que se chegue a alguma sábia conclusão.
Gostaríamos que assim não fosse!
Gostaríamos que, de uma vez por todas – (e aí sim: «custe o que custar»!), – os poderes constituídos abraçassem o ideário ético da honestidade política sem «mas», sendo que este «mas» reflecte as habituais hesitações em desencadear uma acção que se pode voltar contra si, ou contra interesses protegidos.
Que reconhecessem os seus próprios erros e denunciassem os erros dos outros, mesmo que tal aconteça na sua própria «casa». Que a crítica aos outros fosse acompanhada pela própria auto-crítica, sem que isso sirva para passar uma «esponja» sobre as asneiras de uns e de outros.
No momento que vivemos, pior que eventuais «falcatruas» que possam (e devem...) ser apuradas, é a desconfiança que pesa sobre as formas utilizadas pelos políticos na luta pelos poderes públicos e que resulta, necessariamente, num descrédito popular sobre si próprios, retirando-lhes credibilidade.
Praticamente todas as situações que estão agora a ser investigadas e que fazem manchete na Imprensa foram, ou podiam ter sido, do conhecimento da opinião pública e, nomeadamente, das organizações políticas e das instituições do Estado, que agora reclamam ilegalidades.
Por que raio fazem agora tanto alarido? Porque não as denunciaram antes, quando eram oposição ou estavam no exercício das suas obrigações institucionais? Com um PS sem maioria parlamentar, na anterior legislatura teria sido fácil criar as comissões necessárias para investigar aquilo que agora se apelida de crime contra o erário público.
Se as conclusões destas inúmeras investigações – (cuja finalização não prevejo) – resultarem numa condenação pública do anterior Governo, tão culpados são os que prevaricaram, como aqueles que, o sabendo, se calaram.
Então para que serve todo este «bluuá»?
Após meses suficientes de governação e de contas feitas, não era agora que iam encontrar mais despesa por contabilizar!
Com eleições legislativas e presidenciais tão distantes e autárquicas muito mais sensíveis ao perfil dos dirigentes locais do que ao poder central, não me parece lógico que tudo isto se destine à propaganda eleitoral.
Resta-me a mim e a alguns «simples mortais» a ideia de que todas estas acusações ao anterior Governo (justas ou injustas) se destinam a criar «ambiente» para o final do mês.
É que, se o trimestre confirmar os maus resultados económicos e financeiros dos dois primeiros meses do ano, as pessoas desconfiam de que tudo isto não passa de «fogo de artifício», destinado a pôr-nos a olhar para o ar, enquanto voltarão a mexer-nos na carteira.
E, nessa altura, a culpa será sempre do Sócrates!
LUIS BARREIRA
Artigo publicado no Jornal O Clarim (Macau) 30/03/2012

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